Luz sobre o Caminho por Annie Besant e Charles Leadbeater
Crédito da imagem: Markus Spiske.
Annie Besant e Charles Leadbeater, dois importantes estudiosos da teosofia, realizaram no início do século XX uma série de palestras sobre as principais obras da literatura teosófica. Em 1926, a Theosophical Publishing House reuniu em três volumes os registros dessas palestras no livro Talks on the Path of Occultism [Conversas no caminho do ocultismo]. O texto a seguir, contido no terceiro volume da referida obra, traz uma introdução à obra Luz sobre o caminho, de Mabel Collins.
Luz sobre o caminho é um dos vários tratados de ocultismo que estão sob os cuidados dos grandes mestres e são usados na instrução dos discípulos. É uma parte do Livro dos preceitos áureos, que contém muitos tratados escritos em diferentes épocas, e que têm uma característica em comum: contêm verdades ocultas e, portanto, devem ser estudados de uma maneira diferente dos livros em geral. A compreensão desses tratados depende da capacidade do leitor e, quando qualquer um deles é publicado, apenas visões distorcidas de seus ensinamentos serão adquiridas, se forem interpretados literalmente.
Inquestionavelmente destinado a acelerar a evolução daqueles que estão no Caminho, este livro apresenta ideais que as pessoas raramente estão preparadas para aceitar. Somente à medida que um indivíduo tiver capacidade e disposição para viver o ensinamento, ele será capaz de compreendê-lo. Se não o praticar, permanecerá um livro selado para ele. Qualquer esforço para vivê-lo lançará luz sobre ele, mas se o leitor não fizer nenhum esforço, não apenas ganhará muito pouco, como também se voltará contra o livro e dirá que é inútil.
Este tratado tem naturalmente certas divisões. Foi transmitido ao mundo ocidental pelo mestre Hilarion[1], um dos grandes Mestres pertencentes à Fraternidade Branca[2] – que desempenhou um papel importante nos movimentos gnóstico e neoplatônico, sendo uma das pessoas que tentaram manter o cristianismo vivo. Suas encarnações ocorreram mais na Grécia e em Roma, e ele tem um interesse especial em guiar a evolução do Ocidente. Ele obteve o livro tal como o temos, sem as notas do mestre Veneziano[3], um dos maiores mestres que H. P. B. denominou de Chohans.
Quinze das regras curtas que se encontram na primeira parte deste livro e quinze na segunda parte são extremamente antigas e foram escritas no sânscrito mais arcaico. A essas frases curtas, usadas como base para a instrução do discípulo, o Chohan acrescentou outras, que agora fazem parte do livro e devem sempre ser lidas em conjunto, para fornecer ideias complementares sem as quais o leitor poderia se perder. Todas as regras em ambas as partes do livro, exceto os trinta aforismos curtos, foram escritas pelo Chohan, que as entregou ao mestre Hilarion. A tabela a seguir mostra as quinze regras curtas da Primeira Parte como existiam no manuscrito extremamente remoto; o número no início de cada uma das regras corresponde ao original, mas o número no final é o que aparece no livro moderno.
I |
Extermine a ambição. |
1 |
II |
Extermine o desejo de viver. |
2 |
III |
Extermine o desejo de conforto. |
3 |
IV |
Extermine todo o sentimento de separação. |
5 |
V |
Extermine o desejo da sensação. |
6 |
VI |
Extermine a fome de crescer. |
7 |
VII |
Deseja apenas o que está dentro de você. |
9 |
VIII |
Deseje apenas o que está além de você. |
10 |
IX |
Deseje apenas o que é inatingível. |
11 |
X |
Deseje o poder ardentemente. |
13 |
XI |
Deseje a paz fervorosamente. |
14 |
XII |
Deseje bens acima de tudo. |
15 |
XIII |
Procure bem o caminho. |
17 |
XIV |
Procure o caminho retirando-se para dentro. |
18 |
XV |
Procure o caminho avançando ousadamente para fora. |
19 |
Pode-se observar na tabela acima (que se refere apenas à Primeira Parte do livro) que as regras 4, 8, 12, 16, 20 e 21 estão ausentes da lista. Isso porque elas não pertencem à parte mais antiga da obra. Essas regras e os comentários preliminares e conclusivos são a porção acrescentada pelo Grande Ser, que a deu ao mestre Hilarion. Além disso, há notas, que foram escritas pelo próprio mestre Hilarion. O livro originalmente publicado em 1885 continha estas três partes: os aforismos do manuscrito antigo, as adições do Chohan e as notas do mestre Hilarion. Tudo isso foi transcrito por Mabel Collins, que atuou como instrumento físico, como a pena que o escreveu. O próprio Mestre foi o tradutor do livro e o imprimiu em seu cérebro. Era dele a mão que segurava a caneta. Posteriormente, apareceram na revista Lúcifer sob o título de “Comentários”[4] alguns artigos que foram escritos por Mabel Collins[5] sob a influência do Mestre, e que são extremamente valiosos, vale a pena ler e estudar.
Agora, retomando o livro propriamente dito, encontramos primeiro a seguinte declaração: Estas regras são escritas para todos os discípulos: escute-as bem.
Uma distinção é feita aqui entre o mundo e os discípulos, este não é um livro destinado ao mundo em geral. A palavra “discípulo” deve ser considerada em dois sentidos – o não iniciado e o iniciado. Ao ler o livro cuidadosamente, podemos traçar as duas linhas distintas de ensinamento revestidas com as mesmas palavras, cada frase contém um duplo significado, um destinado ao mais avançado e o outro ao menos. Vamos tentar localizá-los quando chegarmos às declarações preliminares. A Segunda Parte do tratado parece ser inteiramente destinada ao discípulo iniciado, mas essa dualidade perpassa a Primeira Parte.
Muitos dos que ainda não se aproximaram do discipulado interpretam mal essas regras e muitas vezes as criticam por defenderem um ideal rígido e carente de compaixão. Este é normalmente o caso quando se apresenta um ideal que é alto demais para o leitor. Nenhuma pessoa é ajudada por um ideal, por mais nobre que seja em si mesmo, que para ela não seja atraente, uma lição prática na comunicação com os seres humanos é que devemos apresentar-lhes apenas os ideais que podem atraí-los. Com todos os livros desse tipo, o que um leitor tira deles é o que ele traz para eles; seu entendimento depende de seu próprio poder para responder aos pensamentos que os livros contêm. Mesmo as coisas materiais só existem para nós se tivermos desenvolvido os órgãos que podem responder a elas; portanto, atualmente existem centenas de vibrações atuando sobre nós às quais somos incapazes de dar atenção. William Crookes[6] uma vez ilustrou isso muito bem quando estava tentando mostrar quão restrito era o nosso conhecimento de eletricidade e quão vasto, portanto, era a possibilidade de progresso na ciência elétrica. Ele disse que faria uma enorme diferença para nós, e, de fato, revolucionaria nossas ideias, se tivéssemos órgãos respondendo a vibrações elétricas em vez de olhos sensíveis a vibrações luminosas. No ar seco não podemos estar conscientes de nada, pois ele não conduz eletricidade. Uma casa de vidro seria opaca, mas uma casa comum seria transparente. Um fio de prata pareceria um buraco ou túnel no ar. O que sabemos do mundo, portanto, depende de nossa resposta às suas vibrações. Da mesma forma, se não podemos responder a uma verdade, não é verdade para nós. Assim, quando lidamos com livros escritos por ocultistas, só podemos captar seus pensamentos na proporção de nosso próprio avanço espiritual. Qualquer parte de seu pensamento que seja muito sutil ou muito elevado simplesmente passa por nós como se não existisse.
Muito mais pode ser obtido deste livro pela meditação do que pela mera leitura; seu maior valor é oferecer direção à nossa meditação. Escolha uma única
frase e medite sobre ela, interrompa o trabalho da mente inferior e desperte a consciência interior que entra em contato direto com o pensamento. Pode-se assim afastar-se das imagens da mente concreta para uma percepção direta da verdade. A meditação, portanto, permite ao cérebro obter uma grande quantidade de conhecimento direto da verdade que o ego adquiriu em seus próprios mundos. Ainda assim, um indivíduo que medita, mas também não lê ou ouve um professor, embora tenha certeza de progredir no plano espiritual, o fará apenas lentamente. Se tivesse a vantagem adicional de ler ou ouvir, avançaria muito mais rápido. A palestra ou estudo pode sintonizar o cérebro do aluno para que ele obtenha mais conhecimento através da meditação. Mas para alguém que apenas ouve ou lê, e não medita, quase nenhum avanço é possível, e o progresso é extremamente lento. Ambos devem ser combinados, muita meditação e um pouco de escuta ou leitura levarão uma pessoa muito longe.
Annie Besant
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A folha de rosto da primeira edição de Luz sobre o caminho, publicada em 1885, traz o subtítulo: “Um tratado escrito para o uso pessoal daqueles que desconhecem a Sabedoria Oriental e desejam estar sob a sua influência”. Mas o próprio livro começa com a afirmação de que essas regras foram escritas para todos os discípulos. A última descrição é certamente a mais precisa, como a história do livro mostrará.
A versão atual foi ditada pelo mestre Hilarion a Mabel Collins, uma senhora conhecida nos círculos teosóficos, que em certa época colaborou com Madame Blavatsky na redação da revista Lúcifer[7]. O mestre Hilarion, por sua vez, o recebeu de Seu próprio Mestre, o Grande Ser, que entre os estudantes teosóficos por vezes é chamado de Veneziano. Mas mesmo Ele foi o autor de apenas uma parte do livro que passou por três fases, de acordo com a ordem a seguir.
É apenas um pequeno livro até agora, mas a primeira forma em que o vimos era menor ainda. É um manuscrito em folha de palmeira, muito antigo; tão remoto que mesmo antes da Era Cristã sua data e o nome de seu autor já haviam sido esquecidos, e sua origem considerada perdida nas brumas da antiguidade pré-histórica. Consiste em dez folhas, e em cada folha estão escritas apenas três linhas, uma vez que em um manuscrito em folha de palmeira as linhas correm ao longo da página, não através dela como nossos livros. Cada linha contém em si mesma um curto aforismo, e a língua em que são escritas é uma forma arcaica do sânscrito.
O mestre Veneziano traduziu esses aforismos do sânscrito para o grego, a fim de serem usados por seus alunos alexandrinos, entre os quais estava o mestre Hilarion, em sua encarnação como Jâmblico[8]. Ele não apenas traduziu os aforismos, mas acrescentou a eles certas explicações, que devem acompanhar o original. Por exemplo, se olharmos para os três primeiros aforismos, veremos que o parágrafo marcado como 4, que os segue, pretende claramente ser um comentário sobre eles; então devemos lê-lo assim: “Extermine a ambição; mas trabalhe como trabalham os ambiciosos. Extermine o desejo de viver; mas respeite a vida como fazem os que a desejam. Extermine o desejo de conforto; mas seja feliz como aqueles que vivem para a felicidade”.
Da mesma forma, as regras 5, 6 e 7 formam um grupo, seguidas pela 8, que é um comentário do Chohan – e assim por diante, até o final do livro. Esses grupos de três não são colocados de tal modo por mera coincidência, mas intencionalmente. Se os examinarmos, descobriremos que há um certo vínculo entre os três em cada caso. Por exemplo, as três regras agrupadas anteriormente apontam para a pureza de coração e a firmeza de espírito. Pode-se dizer que elas indicam o que o indivíduo deve fazer consigo mesmo, qual é o seu dever para consigo mesmo no que se refere à preparação para o trabalho.
O segundo conjunto de três aforismos (números 5 a 8) afirma que devemos eliminar todo senso de separação, desejo de sensação e fome de crescimento. Eles indicam o dever do indivíduo para com aqueles que o cercam socialmente. Ele deve perceber que é um com os outros. Deve estar disposto a desistir de prazeres egoístas e isolados. Deve exterminar o desejo de crescimento pessoal e trabalhar para o crescimento do todo.
No próximo conjunto de três (números 9 a 12), somos informados sobre o que desejamos – o que está dentro de nós, o que está além de nós e o que é inatingível. Estes são claramente os deveres de um ser humano para com seu Eu Superior. Seguem-se os aforismos (13 a 16) sobre o desejo de poder, paz e posse. Esses são todos os desejos que nos capacitam para o trabalho do Caminho. O próximo grupo de regras (17 a 20) diz ao aspirante como buscar o caminho.
As regras agora numeradas como 4, 8, 12, etc., são explicações e ampliações do mestre Veneziano. Elas, juntamente com os aforismos originais, formaram o livro tal como foi publicado pela primeira vez em 1885, pois o mestre Hilarion o traduziu do grego para o inglês e o apresentou nessa forma. Quase imediatamente após sua impressão, acrescentou ao livro uma série de anotações valiosas de sua autoria. Na primeira edição, essas anotações foram impressas em páginas separadas, cujo verso foi colado para que pudessem ser anexadas no início e no final do pequeno livro que acabara de ser impresso. Em edições posteriores, essas anotações foram inseridas em seus devidos lugares.
O pequeno e belo ensaio sobre o Karma que aparece no final do livro também vem pelas mãos do mestre Veneziano e foi incluído no livro desde a primeira edição.
O manuscrito em sânscrito arcaico, base de Luz sobre o caminho, também foi traduzido para o egípcio; e muitas das explicações do mestre Veneziano soam mais como ensinamentos egípcios do que indianos. Portanto, o estudante que conseguir penetrar até certo ponto no espírito daquela antiga civilização, verá que isso o ajudará muito a entender este livro. As condições que nos cercavam no antigo Egito eram radicalmente diferentes das atuais. É quase impossível fazer com que as pessoas as entendam agora; no entanto, se pudéssemos voltar à atitude mental daqueles tempos antigos, perceberíamos muitas coisas que hoje, infelizmente, nos escapam. Temos o hábito de pensar demais no intelecto do nosso tempo e gostamos de nos gabar do avanço que fizemos em relação às civilizações antigas. Sem dúvida, há certos pontos em que avançamos além delas, mas há outras questões em que não estamos, de forma alguma, no mesmo nível. No entanto, a comparação talvez seja um pouco injusta, pois nossa civilização ainda é muito jovem. Se voltarmos trezentos anos na história da Europa e, especialmente, na história da Inglaterra, encontraremos um estado de coisas que parece muito incivilizado, de fato. Quando comparamos esses trezentos anos, incluindo os cento e cinquenta anos de desenvolvimento científico que desempenharam um papel tão importante em nossa história civilizada, com os quatro mil anos durante os quais a civilização egípcia floresceu praticamente inalterada, vemos de imediato que nossa civilização é muito jovem. Qualquer civilização que tenha durado quatro mil anos teve a oportunidade de tentar todos os tipos de experimentos e obter resultados ainda não obtidos por nós, portanto, não é justo em nosso início nos comparar com qualquer uma das grandes civilizações em seu apogeu.
Nossa quinta sub-raça não atingiu de forma alguma seu ponto mais alto ou sua maior glória, e esse ponto quando alcançado será um avanço definitivo sobre todas as outras civilizações, especialmente em certos aspectos. Essa raça terá características próprias, e algumas delas podem nos parecer menos agradáveis que as das civilizações anteriores, mas no todo será um avanço, porque as raças sucessivas são como a maré quando as ondas estão chegando. Avançam e recuam, e a próxima avança um pouco mais longe. Todas elas têm sua ascensão, seu clímax e seu declínio. Entre nós, a maré ainda está subindo, de modo que ainda não temos a ordem estabelecida em certos aspectos que havia em algumas das civilizações mais antigas. Estamos, infelizmente, longe ainda da realização do altruísmo – do sentimento de que a comunidade como um todo é o principal a ser considerado e não o indivíduo. Isso foi alcançado em algumas das civilizações mais antigas em uma extensão que nos faria parecer agora uma espécie de utopia, mas, por outro lado, estamos adquirindo poderes que esses povos mais antigos não possuíam. Houve um curto período no início da história de Roma em que “ninguém era a favor do partido e todos eram a favor do Estado”[9], como disse Macaulay. Pitágoras, falando ao povo em Taormina, disse-lhes que o Estado era mais do que pai e mãe, mais até do que esposa e filho, e que todo indivíduo deveria estar sempre pronto para renunciar a seus próprios pensamentos, sentimentos e desejos em prol da unidade – pela res publica, a origem de “república”, o bem comum ou o bem-estar do todo, para o qual cada um deveria estar disposto a sacrificar seus interesses pessoais. Na Inglaterra, também, nos dias da rainha Elizabeth, houve um período de verdadeiro sentimento e atividade patriótica.
Não quero dizer que no antigo Egito ou na Grécia antiga, ou em qualquer outro lugar, todos os indivíduos fossem altruístas. De forma alguma, mas todas as pessoas instruídas tinham uma visão mais ampla e comunitária da vida do que nós. Pensavam mais no Estado e menos no seu bem-estar e progresso pessoal. Também atingiremos isso e, quando o fizermos, será mais plenamente do que qualquer uma das raças antigas, além de alcançarmos um desenvolvimento não logrado por elas.
Se, então, pudéssemos voltar àquela antiga perspectiva egípcia, compreenderíamos muito melhor Luz sobre o Caminho. Em seu estudo, o estudante fará bem em tentar produzir essa atitude em si mesmo, de modo que possa ajudá-lo a se colocar no lugar daqueles que o estudaram no passado.
É fácil para alguns de nós que passamos pelo treinamento que nos permite lembrar de nossas vidas passadas. Lembro-me de minha última encarnação na Grécia, onde participei dos mistérios Eleusinos, e de outra vida muito anterior, na qual os grandes mistérios do Egito, dos quais ainda existem alguns remanescentes na maçonaria, tiveram grande importância, e isso me permite tirar mais proveito de livros como este do que eu conseguiria sem essa memória. Até mesmo as impressões do passado, oferecendo uma sensação do ambiente, são de grande ajuda. Egípcia ou indiana, não há joia mais preciosa em nossa literatura teosófica – nenhum livro que retribua melhor o estudo mais cuidadoso e detalhado.
Como já explicado, Luz sobre o Caminho foi o primeiro de três tratados que ocupam uma posição única em nossa literatura teosófica, pois dão orientações daqueles que trilharam o Caminho para aqueles que desejam percorrê-lo. Lembro-me de que o falecido Swami T. Subba Row[10] uma vez nos disse que seus preceitos tinham várias camadas de significado – que eles poderiam ser tomados repetidas vezes como direções para diferentes estágios.
Primeiro, eles são úteis para os aspirantes – aqueles que estão trilhando o caminho experimental. Então eles começam tudo de novo em um nível superior para aquele que entrou no Caminho propriamente dito através do portal da primeira das grandes Iniciações. E novamente, quando o Adeptado foi alcançado, é dito que mais uma vez, num sentido ainda mais elevado, esses mesmos preceitos podem ser tomados como instruções para aquele que avança para realizações ainda mais elevadas. Dessa forma, para o indivíduo que pode compreendê-lo em todo o seu significado místico, este manual nos leva mais longe do que qualquer outro. Esses livros, sem dúvida escritos para acelerar a evolução daqueles que estão no Caminho, apresentam ideais que as pessoas comuns geralmente não estão preparadas para aceitar. Mesmo entre os estudantes pode haver alguns que se perguntam sobre a forma como o ensino é dado. A única maneira de entendê-lo é considerá-lo um dado adquirido e tentar vivê-lo. Em Aos pés do mestre[11] é afirmado que não basta dizer que é poético e belo; quem deseja ter sucesso deve fazer exatamente o que o mestre diz, prestando atenção a cada palavra e recebendo cada conselho. Isso é igualmente verdadeiro para este livro. A pessoa que não tenta viver de acordo com o ensinamento constantemente se deparará com pontos nele que a perturbarão – com os quais ela se verá totalmente em desacordo; mas se tentar vivê-lo, o sentido em que deve ser entendido acabará surgindo para a pessoa. Qualquer esforço honesto para realmente viver o ensinamento sempre lançará luz sobre o leitor, e essa é a única maneira pela qual essa pérola inestimável pode ser apreciada.
Em tais livros há muito mais significado do que as próprias palavras transmitem. Portanto, em grande medida, cada leitor obtém dos livros o que ele traz para eles – o leitor traz o poder de assimilar uma certa parte de sua mensagem e obtém apenas essa parte. Apenas ler esses livros, mesmo estudá-los, não é suficiente; é necessário meditar sobre eles também. Se alguém pegar as passagens que parecem um pouco difíceis – as declarações enigmáticas, místicas e paradoxais – e pensar e meditar sobre elas, obterá muito mais da leitura, embora em geral dificilmente consiga expressá-lo.
Tento expressar o que me ocorre em relação a esses diferentes pontos, o que significaram para mim, mas o tempo todo tenho consciência de não estou transmitindo totalmente o que quero dizer. Sei que muitas vezes não consigo expressar toda a ideia que está em minha mente; quando coloco em palavras, soa bastante comum e, no entanto, posso ver por mim mesmo uma vasta quantidade de significado superior. Vejo isso talvez com meu corpo mental. A mesma coisa é verdade em cada nível. Além do que podemos realizar com o corpo mental, há ainda mais que pode ser realizado apenas com o corpo causal e por meio da intuição. O que quer que expressemos, sempre haverá algo mais profundo ainda brotando e florescendo dentro de nós. Que o indivíduo é apenas uma expressão do Eterno, e que nada que esteja fora do Eterno pode nos ajudar, é verdade – verdade sobre a qual os três autores deste livro constantemente insistem.
Charles Leadbeater
[1] Na tradição esotérica e na teosofia, os Sete Raios são representações simbólicas das diferentes qualidades e aspectos da energia espiritual e criativa que permeiam o Universo. Cada raio possui um Chohan, que é um mestre espiritual ou uma figura de destaque associada àquele raio específico. O mestre Hilarion é associado ao quinto raio, o raio da cura. Ele é conhecido como o mestre da cura e da verdade, incentivando o crescimento espiritual através da busca da verdade interior e da cura em todos os níveis. (N. T.)
[2] De acordo com a teosofia, a Fraternidade Branca é uma comunidade de mestres da sabedoria, seres espirituais que alcançaram a iluminação e a transcendência da roda do nascimento e morte. Esses mestres são considerados seres sábios e compassivos, dedicados ao serviço desinteressado à humanidade. (N. T.)
[3] O mestre Paulo Veneziano é associado ao terceiro raio, dedicado aos atributos do amor divino, adaptabilidade, inteligência criativa, beleza, comunhão e compaixão. (N. T.)
[4] Estes comentários são encontrados na edição do livro Luz sobre o caminho, da Ajna Editora, nas páginas 33 a 82. (N. T.)
[5] Mabel Collins (1851-1927) foi uma escritora e teosofista britânica. Autora de mais de 46 livros, entre eles títulos populares de ocultismo, tais como a presente obra. Ativista dos direitos dos animais, ela era contra qualquer tipo de experimentação envolvendo animais vivos. (N. T.)
[6] William Crookes (1832-1919) foi um cientista britânico que fez contribuições significativas em várias áreas da ciência, incluindo a física, a química e a investigação dos fenômenos relacionados ao espiritualismo. (N. T.)
[7] Lucifer foi uma publicação mensal criada por Helena Blavatsky em 1887 como parte da Sociedade Teosófica. A revista desempenhou um papel importante na disseminação dos ensinamentos teosóficos e na promoção do diálogo e discussão sobre temas espirituais e ocultistas. (N. T.)
[8] Jâmblico (245-325 d.C.) foi um filósofo neoplatônico assírio que determinou os rumos da filosofia neoplatônica tardia e talvez do próprio paganismo ocidental. É conhecido por seu compêndio de filosofia pitagórica. (N. T.)
[9] Publicado em 1842, o poema épico “Horácio”, de Thomas B. Macaulay, conta a história do herói romano Horácio Cocles e sua defesa da Ponte Sublício durante a luta entre Roma e Clúsio, no século VI a.C. Os versos citados estão na estrofe XXXII do poema: “Então, ninguém era a favor do partido / e todos eram a favor do Estado. / Então o grande homem ajudou os pobres, / e o pobre amou o grande: / então as terras foram divididas de forma justa; / em seguida, os despojos foram vendidos de forma justa: / os romanos eram como irmãos / nos bravos dias de outrora.” (N. T.)
[10] Swami T. Subba Row (1856-1890) foi um proeminente estudioso e líder espiritual indiano associado à Sociedade Teosófica. Ele é reconhecido por suas contribuições para a teosofia e seu profundo conhecimento das escrituras sagradas indianas, especialmente dos textos védicos e dos Upanishads. Era conhecido por sua capacidade de combinar a sabedoria oriental com a compreensão ocidental e sintetizá-las em uma abordagem coesa. (N. T.)
[11] Aos pés do mestre é uma obra espiritual escrita por Alcyone, pseudônimo utilizado por Jiddu Krishnamurti, renomado filósofo e líder espiritual indiano. Publicado originalmente em 1910, o livro é considerado uma introdução concisa aos princípios espirituais fundamentais. Apresentando uma série de lições e ensinamentos inspiradores, o livro é destinado a orientar os aspirantes em seu caminho de autotransformação e desenvolvimento espiritual. (N. T.)